Hoje abordamos um tema complexo. Emocionalmente complexo.

A eutanásia veterinária é talvez um dos temas mais delicados e desafiantes no setor veterinário, tocando diretamente no vínculo profundo entre humanos e animais.

Na SOPRO, acreditamos que abordar esta realidade com empatia e precisão técnica é essencial para apoiar tanto tutores como profissionais.

Tutores: Quando a decisão mistura amor, culpa e economia...

Optar pela eutanásia é sempre difícil para um tutor, envolvendo sentimentos contraditórios como amor profundo, responsabilidade e culpa. Questões económicas influenciam fortemente esta decisão, criando o conceito amplamente estudado de "eutanásia económica" (Rollin, 2006; Yeates & Main, 2011), onde a falta de recursos financeiros leva a escolhas difíceis, mesmo existindo alternativas terapêuticas viáveis.

Veterinários: O paradoxo de cuidar e eutanasiar...

Se para os tutores é complexo, para os veterinários a eutanásia pode ser emocionalmente esmagadora. De acordo com a Federation of Veterinarians of Europe (FVE, 2021), cerca de 86% dos profissionais reconhecem que esta prática afeta significativamente a sua saúde mental, com fadiga por compaixão e burnout frequentemente reportados. Este problema é agravado pela reconhecida falta de formação adequada em comunicação, ética e apoio emocional durante a formação académica (WSAVA, 2018).

Entre os maiores dilemas éticos encontram-se a realização de eutanásias económicas e as situações de conveniência, criando conflitos morais profundos que desafiam a vocação inicial de preservar a vida e o bem-estar animal.

Contextualizando... temos Europa dividida neste assunto: Portugal, Espanha e França.

O contexto legal europeu é heterogéneo, com diferentes filosofias regulatórias:

Portugal: A legislação centra-se no sofrimento irrecuperável do animal, existindo uma tendência crescente para objeção de consciência entre profissionais (Lei n.º 27/2016).

Espanha: Uma nova abordagem prescritiva de "sacrifício zero" permite eutanásias apenas excecionais, gerando desafios práticos e éticos ainda em discussão nas diferentes regiões (Ley 7/2023).

França: Confere ampla discricionariedade aos veterinários e promove gradualmente alternativas como cuidados paliativos, apesar de carecer de regulamentação específica no setor veterinário.

E terminando com algumas diretrizes para um caminho mais compassivo:

Organizações internacionais como a WSAVA, FVE e AVMA disponibilizam diretrizes claras para garantir uma "boa morte", enfatizando a comunicação eficaz, a avaliação objetiva da qualidade de vida e estratégias estruturadas para mitigar o impacto emocional na equipa veterinária. O modelo SPIKES e a escala HHHHHMM são ferramentas práticas amplamente reconhecidas e recomendadas.

Compromisso SOPRO: acreditamos na importância de capacitar veterinários através de formação contínua, e incentivar políticas públicas e práticas clínicas que privilegiem sempre o bem-estar animal e humano.

Porque cuidar dos animais significa também cuidar das pessoas.

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